Sabe-se que o exercício físico está associado à redução do risco de mortalidade por todas as causas, por doença cardiovascular, acidente vascular cerebral e diabetes, mas sua associação com a saúde mental ainda não está clara. O objetivo do estudo norte americano e britânico, com publicação online pelo The Lancet Psychiatry, foi examinar a associação entre o exercício físico e a saúde mental em uma grande amostra e compreender melhor a influência do tipo de exercício, frequência, duração e intensidade.
Neste estudo transversal, pesquisadores das universidades de Yale e Oxford analisaram dados de 1.237.194 pessoas, com 18 anos ou mais, nos EUA, a partir de 2011, 2013 e 2015, participantes da pesquisa conhecida como Centers for Disease Control and Prevention Behavioral Risk Factors Surveillance System.
Os pesquisadores compararam o número de dias de má saúde mental autorreferida entre indivíduos que se exercitaram e entre aqueles que não o fizeram, usando um procedimento de correspondência não paramétrico exato para equilibrar os dois grupos em termos de idade, raça, sexo, estado civil, renda, nível de instrução, categoria de índice de massa corporal, saúde física autorreferida e diagnóstico prévio de depressão. Examinou-se os efeitos do tipo de exercício, duração, frequência e intensidade usando métodos de regressão ajustados para possíveis fatores de confusão e realizou-se múltiplas análises de sensibilidade.
Os indivíduos que se exercitaram apresentaram 1,49 (43,2%) menos dias de má saúde mental no último mês do que os indivíduos que não se exercitaram, mas que coincidiam em várias características físicas e sociodemográficas. Todos os tipos de exercícios foram associados a um menor fardo para a saúde mental (redução mínima de 11,8% e redução máxima de 22,3%) do que não se exercitar. As melhores associações foram observadas em esportes coletivos populares (22,3% menor), ciclismo (21,6% menor) e atividades aeróbicas e de ginástica (20,1% a menos), bem como durações de 45 minutos e frequências de três a cinco vezes por semana foram mais benéficos. A prática exagerada (cerca de 60 minutos, 3 a 5 vezes por semana) foi associada a características obsessivas, mostrando maior risco para problemas mentais.
A interpretação dos resultados mostra que em uma grande amostra norte-americana, o exercício físico foi significativamente e seriamente associado ao fardo na saúde mental autorreferido no último mês. Maior quantidade e frequência de exercícios nem sempre foi melhor. Diferenças em função do exercício foram grandes em relação a outras variáveis demográficas, como educação e renda. Tipos específicos, durações e frequências de exercício podem ser alvos clínicos mais eficazes do que outros para reduzir o fardo na saúde mental, e merece estudos intervencionistas.